segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

"Super 8" de J.J. Abrams 2011


Se "A invenção de Hugo Cabret" de Martin Scorsese (2012) é uma homenagem à invenção do cinema, "Super 8" é uma homenagem a grande brincadeira de fazer filmes, quando se é jovem, cheio de sonhos e imaginação!!

J.J. Abrams (criador do fenômeno LOST) se uniu a Steven Spielberg (produtor do filme) para retratar parte da sua vida adolescente na década de 70, quando realizava curtas em Super 8 com seus amigos, e onde iniciou sua carreira no cinema, já como editor, aos 14 anos, após ganhar um pequeno prêmio de curtas Super 8, sendo convidado por Spielberg para editar curtas que ele também havia realizado na adolescência.


Abrams uniu a vontade de falar de si no passado, através de um grupo de adolescentes criativos e realizadores de vídeos 'amadores'; com um empolgante e 'sinistro' acidente de trem, envolto num ar de mistério adolescente; além de seres estranhos e adultos-vilões para criar "Super 8", que conta com um elenco mirim inédito (a maioria nunca havia atuado). Impossível não lembrar de "Goonies" e as peripécias adolescentes dos personagens em nossa doce infância da década de 80 e 90!!  

 Personagens de "Goonies"                    Personagens de "Super 8"  

O bacana do filme é entender como funciona a mente criativa de uma criança e adolescente, a partir do envolvimento entre os personagens, além da organização e disciplina que apresentam na hora de expressar sua criatividade. Nos créditos finais podemos ver o curta "The case", com ar bem 'artesanal', realizado por Abrams, buscando a expressividade infantil de décadas atrás. 

Seja Spielberg, Abrams ou meus alunos, a ficção científica é sempre o tema principal, onde maquiagens elaboradas e cenas de ação não poderiam faltar! 

 Fotos de alunos da Aula de Cinema em 2009 

Considerando que a criança aprende muitas coisas por imitação, é natural que na hora de se expressar em vídeos, reproduza clichês e histórias hollywoodianas fantásticas (ação&romance), já que é o que realmente as encanta e empolga, quando o pensamento abstrato e a subjetividade ainda estão se desenvolvendo.

Enfim, é um filme bacana para discutir a temática educação & cinema, justamente tema da minha pesquisa de mestrado ainda em andamento. O quê, porquê e como ensinar cinema na escola?!
 
Como professora posso afirmar que trabalhar com cinema em aula envolve organização, disciplina, interesse, criatividade, expressividade, subjetividade, dinâmica, trabalho em equipe, distribuição de funções, produção de materiais e cenários, criação de roteiro, etc e tal. Mas pra quem não é professor, o filme já dá uma boa noção do que seria fazer filmes com poucos recursos e muita vontade, começo de todo grande cineasta!! (Menos é mais!)

Ninguém nasce pronto! Aprender é um processo a longo prazo e quanto mais experimentamos, mais aprendizado nos é oportunizado! =)

Obs.: Recomendo os extras do DVD (making of, entrevistas, etc) e ouvido atento para a trilha sonora sombria, já presente no seriado 'Lost', criação de J.J. Abrams.

Mundo Estranho - Loucuras do Cinema


Já está nas bancas esta edição especial (Março 2012) da 'Revista Mundo Estranho - Loucuras do Cinema'!! Eles compilaram diversas reportagens, antigas e recentes, super curiosas e bizarras sobre cinema.

O bacana é que o projeto gráfico é divertido e dinâmico, o que potencializa a revista como material didático para aulas temáticas de cinema.

Para trabalhar em sala de aula, recomendo as seguintes reportagens:

-Como é a produção de um filme?
-Como é filmada uma cena?
-Como é pós-produção de um filme?
-Como fazer seu próprio filme?
-Como funciona um projeto de cinema?
-Quando surgiu um trailer de cinema?
-O Brasil, segundo Hollywood.
-O mundo em 3D - Sobre Avatar

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

"A invenção de Hugo Cabret" de Martin Scorsese 2012

 

Ontem, quinta-feira, dia 23 de fevereiro de 2012, finalmente assisti a mais recente obra do cineasta norte-americano Martin Scorsese, consagrado por seus bons filmes de ação e suspense adulto.

Se me perguntassem qual meu filme favorito antes dessa fantástica experiência, não teria uma resposta precisa, mas hoje posso afimar com absoluta certeza que meu filme favorito é "A invenção de Hugo Cabret". Não pela história em si, mas porque é o primeiro filme que conheço (se não for o único que existe) que verdadeiramente homenageia a invenção do cinema, o pioneiro Georges Méliès, meu grande ídolo e uma parte da história do cinema, conhecida teoricamente como 'O primeiro Cinema', ainda mudo, preto&branco, de curta duração e que transitava entre 'realidade e ficção' (Irmãos Lumière e Georges Méliès) num esquema de 'cinema de atrações'.

Ainda esta semana, um dos meus primeiros alunos de cinema, o talentoso Luís Gustavo, procurou-me no facebook empolgado, contando como se lembrou das nossas aulas ao ver este filme. E do início ao fim da sessão, eu chorei de emoção, fiquei arrepiada e minhas lágrimas se misturavam ao meu sorriso, porque eu estava vendo em imagens parte do que havia estudado na faculdade, tudo que havia estudado para dar aula, que havia narrado e compartilhado com meus alunos da Escola da Ilha e pessoas anônimas que passaram pelos minicursos da SEPEX da UFSC, além do meu marido e amigos, que tenho certeza que lembrarão de mim e da minha empolgação ao falar como o cinema surgiu e como Méliès foi pioneiro em transformar sonhos em filmes!!! Meu marido disse 'O filme me fez lembrar de você e das coisas que você sempre fala do cinema!'.

Baseado no livro infanto-juvenil "A invenção de Hugo Cabret", do autor premiado Brian Selznick, o filme de Scorsese une duas histórias, do personagem fictício Hugo e do personagem da vida real Méliès para fazer uma grande homenagem à invenção do cinema e tornar seu filme uma obra essencial e obrigatória para qualquer estudante de cinema e cinéfilo, interessado em compreender o surgimento do cinema e seus primeiros desdobramentos. É um grande presente à História do Cinema e uma justa homenagem à Georges Méliès, pai dos 'efeitos especiais' e cinema de ficção, sempre beirando ao fantástico em suas histórias lúdicas.


Além de tudo isso, o primeiro filme em 3D de Scorsese confirma o terceiro grande marco da história do cinema, após o som e a cor, pois assim como em outras épocas, ainda há muita resistência (como Chaplin resistiu ao som), porém quando grandes cineastas aderem à uma inovação tecnológica e a exploraram ao máximo, será muito difícil reverter esta nova tendência do cinema. Estamos vivendo o 'futuro' e em breve fazer filmes em 2D será pura escolha estética, assim como já é, quando se faz mudo ou em preto&branco.

Scorsese experimenta o 3D de forma genial, explorando a profundidade de campo de várias maneiras, com elementos se aproximando ou se afastando em relação à câmera, com planos fixos e móveis, favorecendo a sensação de imersão nas cenas, além do bom uso da sobreposição de elementos cênicos, típico do 3D. Os enquadramentos parecem feitos de várias camadas!! Dá vontade de tocar os objetos e andar nos cenários!

A seqüência inicial do filme, quando a câmera desliza na estação e pára diante dos olhos de Hugo, escondidos por trás de um relógio, é maior prova de que o 3D não será passageiro, mas uma técnica que será explorada cada vez mais por mentes brilhantes do cinema. Este é um segundo grande presente, vivenciar uma nova forma de fazer filmes, quando tudo já parece tão desgastado. Scorsese soube explorar e pensar em 3D brilhantemente!


A direção de arte e uso da luz (contraste claro e escuro) reforça a tridimensionalidade e profundidade de campo do filme, mantendo um ar lúdico e fantástico, essencial em filmes infanto-juvenis, e especial quando se homenageia Méliès. Lembrei-me muito dos filmes do cineasta francês Jean-Pierre Jeunet (Delicatessen, O fabuloso destino de Amélie Poulain, Micmacs, etc), que também acredita que o cinema é o mundo da imaginação e dos sonhos.

Hugo (Asa Butterfield) é um jovem inventor, que aprendeu a consertar engrenagens e relógios, com os ofícios do seu pai relojoeiro. O último momento que passam juntos envolve a descoberta de um misterioso autômato, um boneco mecânico, que está quebrado e precisa de consertos. Antes do mistério ser desvendado, o pai de Hugo morre num incêndio e seu tio alcóolatra o leva para estação de trem, seu novo lar.

É neste ambiente, numa Paris de 1930 (ainda que os personagens falem inglês), que Hugo conhece o desanimado e inconformado Papa Georges (Ben Kingsley), dono de uma loja de brinquedos, e sua neta Isabelle (Chloe Moretz), devoradora de livros que nunca foi ao cinema.


Obcecado pelo conserto do autômato, Hugo rouba peças da loja de Mèliès, até ser pego e ter seus pertences retidos pelo velho rabugento. O caderno que carrega contém todas as informações sobre o boneco mecânico, o que deixa papa Georges transtornado. É neste clima de mistério juvenil, que a amizade de Isabelle e Hugo se fortalece e juntos descobrem quem Papa Georges realmente é, o grande pioneiro cineasta Georges Mélies.

Em certo momento do filme, Hugo conversa com Isabelle e acredita que tudo existe por uma razão, que qualquer artefato mecânico nunca contém peças extras, e por isso acredita que cada ser humano tem uma função no mundo, uma vocação, um objetivo. 'Ninguém é uma peça extra!'. Isabelle e Hugo não sabem ao certo qual sua função, mas acreditam que a de papa Georges precisa ser lembrada, pois ele parece tão quebrado quanto o boneco mecânico.

Aí reside a grande mensagem infanto-juvenil do filme: encontrar sua paixão, sua função e vocação. Sentir-se parte do mundo, essencial! Nunca alguém extra e descartável. E se observarmos o ciclo da natureza, tudo realmente cumpre uma função e se transforma! Ninguém é resto ou lixo! E se Méliès estava se sentindo assim, Hugo e Isabelle o ajudam a lembrar-se de quem foi, assim como Scorsese, através de seu filme ajuda-nos a lembrar de como o cinema surgiu e de como Méliès foi importante!!

 'Viagem à lua' de Georges Méliès (1902) 
Meu filme favorito do 'Primeiro Cinema'

O filme é emocionante 'fora de campo', pois me toca no meu lado mais sensível. Sou alguém que acredita nesse cinema da imaginação!!! Nada de discursos políticos ou posturas radicais, apenas entender que o cinema é aquilo que queremos que ele seja para nós, realizadores e espectadores. Ninguém é dono da verdade ou de uma definição específica, pois a experiência do cinema é única e passageira. Os filmes passam e se multiplicam, mas sensações e lembranças de cada experiência é que ficam!!! =)


Mais do que uma história infanto-juvenil, uma mensagem positiva, uma trama misteriosa e lúdica, uma belíssima direção de arte e experiência 3D, ou um ator não tão expressivo, e uma Paris estereotipada, o mais tocante foi ver trechos de filmes de Méliès restaurados em 3D. Foi emocionante ver 'A chegada do trem na estação' e as pessoas se jogando atrás das cadeiras. Ver o primeiro estúdio de cinema, feito de vidro para entrar toda luz possível, e os bastidores dos primeiros filmes do cinema, cenários, figurino, efeitos e peripécias!! "Aqui que inventamos os sonhos!" disse Méliès, o cineasta ilusionista que encantou o mundo com seus filmes fantásticos, pouco lembrados e valorizados! Talvez resida aí a importância de uma aula de cinema, que esclareça que os efeitos especiais começaram muito antes de Star Wars e afins! =)

Ver Hugo foi uma experiência tocante, emocionante e apaixonante, pois homenageia o começo de algo que se tornou minha grande paixão, como realizadora, espectadora e professora, pois mais do que fazer filmes, eu me realizo ensinando a fazer!! O cinema é de todos, e se eu puder ajudar que outros se expressem através dele, estarei fazendo cinema também! =)